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La Niña: uma oportunidade para aprimorar o manejo e fortalecer a resiliência das propriedades rurais

Escrito por Ricardo Balardin | Oct 17, 2025 1:16:10 PM

Os modelos meteorológicos mais recentes apontam uma tendência para a formação do fenômeno La Niña entre o final de 2025 e o início de 2026, com maior probabilidade de consolidação entre os meses de outubro e novembro deste ano. De acordo com a NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos), há cerca de 70% de chance de que o evento se estabeleça no final de 2025 e permaneça ativo durante boa parte de 2026.

Essa perspectiva acende um alerta — e, ao mesmo tempo, uma oportunidade — para produtores e consultores agrícolas em todo o Brasil. Entender o que a La Niña representa e antecipar seus impactos pode ser o diferencial entre uma safra desafiadora e uma colheita bem-sucedida.

O La Niña é um fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial, o que altera os padrões de circulação atmosférica e a distribuição de chuvas em diferentes partes do planeta.

 

No Brasil, seus efeitos costumam ser bem marcantes:

 

  • Região Sul: tende a enfrentar períodos mais secos, com risco maior de estiagens prolongadas e irregularidade nas chuvas.

  • Centro-Oeste e parte do Sudeste: normalmente observam chuvas dentro ou acima da média, favorecendo o desenvolvimento das culturas de verão.

  • Norte e Nordeste: podem registrar maior volume de precipitação, o que beneficia a agricultura de sequeiro, mas também exige atenção ao manejo de doenças.

É importante lembrar que os efeitos da La Niña variam de intensidade e duração, dependendo da força do fenômeno e das condições locais de solo, altitude e umidade.

 

Riscos e desafios para a safra 2025/26

Com base em experiências anteriores, o retorno da La Niña traz um cenário de contrastes. No Sul, a falta de chuva pode comprometer o plantio e o enchimento de grãos da soja, milho e trigo, além de aumentar o risco de geadas tardias. Já nas regiões Centro-Oeste e Norte, as chuvas mais bem distribuídas podem favorecer o desenvolvimento inicial das lavouras, embora o excesso de umidade exija mais cuidado com doenças fúngicas.

O maior desafio para o produtor brasileiro, portanto, será planejar o manejo agronômico de forma regionalizada e flexível, levando em conta as previsões climáticas atualizadas e o comportamento histórico da propriedade.

 

Práticas agronômicas recomendadas em períodos de La Niña

Diante de um cenário de maior incerteza climática, algumas medidas se tornam fundamentais:

 

  1. Cuidar do solo e da sua cobertura
    Práticas como o plantio direto e o uso de culturas de cobertura ajudam a preservar a umidade, especialmente em regiões sujeitas a veranicos.

  2. Ajustar o calendário de plantio
    O acompanhamento das previsões locais deve orientar o produtor a antecipar ou postergar o plantio, evitando que o enchimento de grãos ocorra  em períodos críticos de estiagem.

  3. Escolher cultivares adaptadas e tolerantes
    Optar por sementes com maior tolerância ao estresse hídrico e adaptadas às condições regionais (se disponível) é uma das decisões mais importantes em anos de La Niña.

  4. Fortalecer o monitoramento climático e fitossanitário
    O uso de ferramentas digitais e sensores de umidade permite ajustar decisões de irrigação e detectar doenças com antecedência.

  5. Diversificar e planejar o risco
    Dividir áreas entre diferentes cultivares e janelas de plantio ajuda a diluir o impacto de possíveis extremos climáticos. Essa diversificação pode ser técnica e econômica, envolvendo também seguros agrícolas e estratégias comerciais.

Planejamento e tecnologia: aliados indispensáveis

Em um cenário de La Niña, decisões tardias custam caro. O planejamento deve começar antes da semeadura, com o uso de informações meteorológicas confiáveis e o apoio de ferramentas tecnológicas que transformem esses dados em recomendações práticas.

Na DigiFarmz trabalhamos para que produtores e consultores tenham acesso a modelos agronômicos inteligentes, capazes de indicar as melhores janelas de plantio, híbridos mais adequados e alertas de risco climático e fitossanitário. Em períodos de alta variabilidade, como o que se aproxima, essa integração entre ciência e tecnologia é fundamental para manter a rentabilidade e a sustentabilidade das lavouras.

 

Um olhar à frente

A chegada da La Niña não deve ser encarada apenas como uma ameaça, mas como uma oportunidade para aprimorar o manejo e fortalecer a resiliência das propriedades rurais.

A agricultura moderna é, cada vez mais, uma combinação de conhecimento técnico, dados e planejamento estratégico. Antecipar-se às mudanças climáticas, adotar boas práticas de manejo e usar ferramentas de apoio à decisão não é apenas uma recomendação — é o caminho para garantir que cada colheita continue contando uma história de sucesso, mesmo diante dos desafios do clima.

 

Ricardo Balardin
CSO & Founder da DigiFarmz
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia/Fitopatologia e Ph.D. pela Michigan State University